quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Temos uma identidade lingüística?

Quarta-feira,15 de setembro de 2010
O Brasil é um país interessante. Tanto por sua extensão, como também, por seu "glorioso" passado, temos, hoje, uma mescla de diferentes culturas que se reflete no estereótipo dos brasileiros. Com a língua não é diferente. A língua portuguesa, falada e escrita no Brasil, possui distintas raízes, que não advém somente do português europeu. Já, quando Pedro Alvares Cabral desembarcou em Porto Seguro, falantes nativos de diferentes línguas habitavam o país. Além disso, influências como a de idiomas africanos, e de outros povos que ajudaram a construir a história do país, aparecem como fatores relevantes na "história de língua brasileira".
A língua é parte fundamental na cultura de um povo, é através dela que nos comunicamos, nos expressamos e nos constituímos como sujeito. Porém, o que ocorre na atual situação lingüística do país é um veto, um corte, na simples tentativa de comunicação entre indivíduos que trazem em suas raízes distintas maneiras de interagirem lingüísticamente.
A língua portuguesa "ensinada" nas escolas é vista pelos alunos, por que não dizer, como uma língua estrangeira. É diferente daquilo que ele costuma exercer a todo instante, daquilo que ele convive desde quando se conhece por gente. Na maioria das escolas brasileiras, o ensino da língua portuguesa, contemplado pelo incessante e descomprometido ensino de normas gramaticais, distancia-se da carga cultural lingüística que o aluno traz consigo.
O sistema da língua portuguesa já é intrínseco ao inconsciente dos brasileiros, uma vez que estes já mantém um contato com o idioma desde muito pequenos. É a identidade lingüística cultural dos brasileiros. Mas, quando chega a escola, a criança se depara com algo totalmente desvinculado à sua realidade, distante daquilo que conhece. Acredito que isso explique a aversão à língua portuguesa enquanto conteúdo escolar.
Por outro lado, esse tipo de incoerência, não só no sistema de ensino, mas em todo o sistema brasileiro, já é conhecido e, o pior, nos acostumamos com isso. Nossos primeiros habitantes falavam sua própria língua, se compreendiam e foram abafados pela menor, mas poderosa hegemonia portuguesa. Esse cruel episódio se reflete até hoje na realidade brasileira. Nada mudou. Falantes nativos estão indo a escola e sendo abafados por uma língua desconhecida. Enquanto a escola fictícia se compromete em formar cidadãos atuantes em sociedade, a escola atual "emburrece" nossas crianças a medida que professores das mais diversas disciplinas fogem da responsabilidade de formar sujeitos capazes de pensar e criticar.
Me preocupo com essa questão. Acredito que, enquanto professores, não adequarmos o ensino à realidade histórica e social brasileira, enquanto não relevarmos e usar a nosso favor a carga cultural que advém dos nossos alunos, continuaremos consentindo essa dura realidade do ensino de língua portuguesa nas escolas e, como conseqüência disso, negando nossa identidade lingüística.

3 comentários:

  1. É verdade, Glícia. O ensino da língua como um código completamente distinto daquilo que os nossos aprendizes fazem uso no seu dia a dia é o que mais dificulta a fluidez do nosso propósito: o ensino da língua materna. Cabe a nós mudarmos essas realidade o quanto antes, você não acha? Vamos nos unir rumo a esse objetivo? Conte comigo!
    Abraços e parabéns pelo artigo!

    ResponderExcluir
  2. Muito bom esse pequeno artigo, meus parabéns... verdade nua e crua. Será que isso pode ser transformado, mudado, renascer...bem cabe aos odiados professores de Língua Portuguesa. Mais uma vez meus parabéns.

    ResponderExcluir
  3. Ótimo artigo, Gli! É por causa de vocês, professores de Português, que sabemos,entre outras coisas, postar comentários em blogs, como este que vos escrevo...
    Parabéns miguxa.

    ResponderExcluir